sábado, 25 de outubro de 2008

To the hell by bus

Lembrei porque eu nunca venho pra Antonina com o ônibus das 17h30. Já tinha me esquecido como aquela desgraça é horrível, mas ontem foi além das minhas piores memórias. Ônibus ruim e sacudindo, estrada sinuosa e cheia de buracos já são constantes, mas ontem tinha um quê a mais de "viagem ao inferno".
Cheguei na rodoviária em cima da hora e, ao olhar pro ônibus, vi que iria me incomodar logo de início: tinha um corno sentado no meu lugar. Destaquei a passagem e parei na frente dele.

- Essa poltrona é minha.
- É?


Bem, acho que o número 03 na MINHA passagem e não na dele significava alguma coisa. Respirei fundo.

- É.

Ao ouvir minha resposta seca o tiozão colocou a mão na barriga e murmurou qualquer coisa. Praguejei mentalmente. Era óbvio que ele não iria sair dali.

- Se importa de eu ir sentado aqui?

Era óbvio que eu me importava! Não comprei a poltrona 03 pra ir sentado em outro lugar. Queria ir pra casa sentado bem na frente e na janela, principalmente porque tava um calor desgraçado e não tinha ar condicionado. Preparei-me pra dizer que me importava sim e que o queria fora dali quando o infeliz foi mais rápido.

- É que sou cardiopata e preciso de ar...

Pronto, fodeu-se! Ele ia contar alguma história comovente para me convencer a deixá-lo ir sentado no meu lugar. Eu também precisava de ar! Precisava daquela janela aberta até o talo pra me fazer esquecer do calor nas próximas duas horas de viagem por aquele caminho horrível da Graciosa. Não me importava a sua cardiopatia, tudo o que eu queria era o meu lugar. Só.

- ... da última vez eu tava quase chegando em Antonina quando me deu um infarto.

O cara jogou sujo. Apelar pra doença em ocasiões como essa é pior que usar a mãe morrendo em fila de banco. Por mais que eu não desse a mínima pra ele, eu não iria querer passar duas horas ao lado de alguém que podia morrer a qualquer momento. Imaginei-me sentado na poltrona 03, ouvindo música ou fazendo qualquer coisa quando ele tem um ataque e cai morto em cima de mim e dei-me por vencido. Não tinha como argumentar com aquilo. Mesmo que eu não me importasse de viajar ao lado de uma bomba-relógio, ele poderia começar um escândalo por não ter pena de um doente.

- Tudo bem, eu vou na 04.

Mas a desgraça não acabou aí. Já no meio da viagem, eu já com uma dor de cabeça lazarenta por causa das sacudidas do ônibus, percebo que o velho fedia que uma desgraça. Estou até agora tentando comparar aquele cheiro, mas até agora não me veio nada parecido em mente. Não era aquele fedor de gente suja, era outra coisa. Alguma coisa pior e mais nojenta. E desconhecida.
O cheiro só piorou minha dor de cabeça. Meu humor tinha ficado na rodoviária e, graças a Deus, ele não tentou puxar conversa. Odeio gente que puxa conversa comigo em ônibus, imagina alguém que fede, rouba meu lugar e ainda puxa conversa. Eu daria um tapa na orelha dele se ousasse.

Quando a mulher da poltrona 01 desceu, aproveitei pra fugir daquela tortura. Joguei minha mala pro banco vazio e atravessei o corredor, desanimando algumas pessoas que ensaiavam ocupar aquele lugar. O tiozão olhou pra mim, talvez tentando entender o motivo da minha troca de poltrona. Não dei a mínima e tentei dormir. Inutilmente.

Atrás de mim estavam sentadas duas senhoras em uma conversa muito empolgada que conseguia atravessar minha barreira de isolamento sonora. Sim, a conversa delas conseguia passar pelo meu MP3, que estava em um volume considerável. Não chegou a ser um diálogo deprimente que me fizesse ter vontade de pular pela janela como alguns que já ouvi. Admito que eram engraçados, apesar de não ser essa a intenção delas.
Começaram falando do caso Eloá. Normal. É o assunto da semana e era de se esperar que duas tiazonas começassem a falar sobre isso. De repente, totalmente fora do contexto da conversa, uma delas começou a contar o quanto adorava salada de alface. A outra disse que também gostava e começaram a conversar sobre alfaces e cenouras. E logo em seguida, da mesma maneira surreal como começou, a história dos legumes desapareceu para falar do caso Eloá novamente. Xingavam o pai dela e o namorado. Uma delas comentava que tinha medo que a neta arranjasse um namorado louco como o Lindberg. Eu teria medo de ter uma avó que não consegue seguir uma linha de raciocínio durante uma conversa.

Cheguei em Antonina com a cabeça quase latejando. E com chuva. Ao menos nada fedia e ninguém falava coisas fora de contexto por perto. Muito menos alguém podendo cair morto ao meu lado.
Agradeci a Deus por ter chegado inteiro e são em casa, mas jurei que nunca mais pego aquele ônibus. Jamais.

2 comentários:

Lu Belin disse...

Certo, certo. Esse ônibus realmente não foi legal.

Da próxima vez, você pega o das 18:30.

=D

Unknown disse...

imagine só um morto fedido do seu lado. eu hein!