segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Quero ser Mauri König

Não sei de onde as pessoas tiraram a idéia de que o jornalismo pode salvar o mundo. Não é difícil encontrar pessoas na faculdade que pensem desse jeito e que têm esperança de tudo possa ser resolvido apenas escrevendo um texto com palavras bonitas ou com uma fotografia mostrando como a realidade é horrível fora de nossa bolha de 800 reais de mensalidade. Pois eu quero dizer para esse pessoal que, sinto muito, mas não é assim que as coisas funcionam.
Um bom texto ou uma foto mostrando algochocante podem mesmo surtir algum efeito nas pessoas, mas será algo passageiro. Tão efêmero quanto a leitura deste texto, talvez. As pessoas irão ver aquilo que você quer mostrar, ficarão horrorizadas e no próximo instante não vão mais se lembrar ou não darão a mínima. Por mais bem intencionado que seja, você jamais conseguirá mudar o mundo com uma notícia de jornal.
Não precisa ir muito longe para encontrar pessoas com ideiais tão belos e ingênuos. Recentemente ouvi uma história de que uns conhecidos meus decidiram fazer isso: foram em invasões, subiram o morro e entraram na favela. Queriam transformar o feio em belo com palavras e imagens. Queriam mudar o mundo com o jornalismo e, por muito pouco, não viraram Tim Lopes. Foram perseguidos por alguém que não queria que aquelas coisas fossem mostradas e tiveram a câmera levada. Ao menos isso, já que as chances de tomarem um tiro ou irem parar no microondas eram enormes.
O jornalista não é um super-herói. E mesmo se fosse, escrever não seria seu super poder. O Superman é jornalista, mas salva o mundo na porrada. O Homem-Aranha é fotógrafo, mas nunca derrotou ninguém com uma foto. É tudo na base do tapa. O único realmente capaz de fazer isso seria o Mauri König, mas sabe que é inútil. Não adianta salvar o que já está podre.
Um exemplo bem famoso disso foi o caso Tim Lopes. Tentando ser como König, o deus do jornalismo, Lopes tentou se infiltrar em uma favela carioca pra mostrar os horrores do tráfico de drogas e da exploração infantil. Acabou sendo assado no microondas do morro.E tenho certeza de que, mesmo tendo "se sacrificado" por causa disso, o tráfico e a exploração sexual continua naquela terra de Marlboro.
E conformem-se. Pode morrer um Tim Lopes por dia e as coisas continuarão as mesmas. A vida de ninguém vai se alterar por saber que a alguns quilômetros de sua casa tem uma favela e lá tem um usuário de crack. As pessoas só se importam quando são realmente atingidas por este mal, mas aí o jornalismo nada pode fazer. Você não vai evitar de ser assaltado mostrando a foto de um criança barrigudinha em uma invasão ou escrevendo um texto sobre a pobre senhora catadora de papel. Você não vai conseguir nada além de inflar seu ego. É como já dizia Joãozinho Trinta: "Quem gosta de miséria é rico. Pobre gosta de luxo".

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