terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Meu vizinho reggaero

A maldição do "Marley e Eu" persiste e minha sina de ser perseguido pela galera de tribo de Jah continua. Agora tenho vizinho reggaero que insiste em ser meu "brow".

Começou quando cheguei no meu prédio e vi aquele monte de sacolas e malas na porta. Atrás disso tudo, saltando aos olhos de qualquer um, um quadro de Bob Marley. Na hora, comecei a rezar para que, ou estivesse saindo do prédio, ou morasse em qualquer andar que não fosse o 10º - do qual por sinal sou Rei.

Estava prendendo a minha bicicleta quando ouço a zeladora, como de costume, questionando o novo morador. Perguntou de onde era e ele responde, com aquela voz arrastada de quem vive um "sussebrow way of life", que era de São Paulo.

Me enrolei um pouco mais que o necessário para prender a bicicleta, afinal minha misantropia me impede de dividir o elevador com quem certamente vai puxar papo. Dado um certo tempo em que ele provavelmente já tinha desaparecido, saí de meu esconderijo e dei de cara com a porta do elevador aberta e o cara enchendo aquilo de sacola e o horrendo quadro do Bob Marley. Tentei chamar o outro elevador, mas como o outro estava ali, acabou me deixando na mão.

- Brow, entra aqui! Tem espaço ainda.

E eis que meus temores estavam certos: o cara começou a puxar papo.

- Cê mora aqui?
- Aham. - Eu olhava desesperado para o visor, que avançava os andares com uma veocidade incrivelmente aquém da normal.
- Sozinho?
- Aham.
- Faz o quê?
- Estudo.

Foi nessa parte da conversa que desisti de olhar para o visor, que me torturava com a demora e com a possibilidade de ele dividir o andar comigo, e decidi olhar para aquele que tentava desesperadamente conversar comigo. Dos males o menor, já que ele não usava dreads - ou seja lá como se chama aquela porra que os reggaeiros fazem na cabeça - e não se vestia como um hippie. Era apenas um playboyzinho com cara de drogado.

- Massa. O quê?
- Jornalismo.
- Ô! Onde?
- PUC.
- Massa! Também vou fazer lá. Engenharia de produção (ou qualquer merda assim)
- hmm - Ainda estávamos no 4º andar e o desespero de ele estar se dirigindo para o décimo crescendo a medida que avançávamos.
- Como cê vai pra lá?
- A pé.
- Ô, massa! To querendo ir também. Andar de ônibus nem rola. Que horas você sai?

Nessa hora o desespero atingiu nível crítico. Além de desrespeitar a principal regra de convívio social de Curitiba - a de JAMAIS puxar assunto no elevador, principalmente com desconhecidos - ele queria se "achegar" a mim e me fazer companhia na minha via crucis até a PUC. Olhei para o quadro encostado no fundo do elevador, e vi, atrás de um enorme nevoeiro, Bob Marley sorrindo sarcasticamente para mim, como se pensasse: "Me zoou aquela vez, agora senta!"

- Às 7, mas esse ano comprei uma bicicleta, vou sair um pouco mais tarde.

Graças a Deus, nesse exato instante, enquanto estávamos quase chegando ao quinto andar, o cara olha pro visor e, para o meu alívio, se desespera:

- Meu Deus, esqueci de apertar! - e aperta o botão do 7º andar - Então, cara, vou estar lá embaixo essa semana, daí a gente conversa e você me fala como ir pra lá.
- Ok. - e desesperadamente apertava o botão do 10º andar.

Meu prédio parece ser quase que uma Casa do Estudante da PUC, porque só vejo gente de lá e que sempre insistem em ir comigo. A última que se aventurou foi uma menina que fazia Enfermagem e morava no apartamento em frente ao meu. Na terceira vez em que me acompanhou, percebeu meu desinteresse nas histórias de como os pais dela eram controladores mesmo à distância quando se deu conta que eu apenas respondia com pequenos grunhidos (uhum, hmm) ou no máximo alguma coisa monossilábica. Desde então decidiu gastar R$ 1,90 para ir de ônibus e só voltei a vê-la quando estava indo embora do prédio.

Ir pra PUC é triste e não vai ser a companhia de algum aleatório que vai torná-la mais divertida, principalmente para alguém misantropo. Logo, espero que esse reggaero não venha tentar fazer meu caminho mais divertido, tampouco descubra em qual apartamento moro, apesar de não ser difícil, já que sou a única pessoa que usa o tapete de "Welcome" virado para dentro.

Um comentário:

peronperon disse...

Sério, seu prédio tem uma fauna de vizinhos muito exótica. O dia que se mudar um carregando diversos artefatos de couro e um chicote de dois metros, não me surpreenderei.